INDULGÊNCIA II


Uma frase. Por vezes nem uma frase é, apenas uma palavra mal escolhida, ou sequer escolhida.
Mas uma expressão... uma daquelas que discursam monólogos de dor e destilam contundentemente dragões e monstros infernais que nos puxam às catacumbas do Universo, privando-nos da Luz que nos guia os dias e as noites... essas são as expressões que alimentam. Alimentam dor às almas que ainda têm espaço para conter, até que um dia vertam toda a mistura de fel encerrada.

Releva-se. Não adianta. Perdoa-se em expoente de virtude, expressões que nada caracterizam o Eu e apenas existem em plano de perspectiva dramática de insucessos consecutivos. Afinal não dói. Apenas fere por instantes. Absorve-se um pouco mais. Não custa. Guarda-se. Transforma-se para que possa usufruir em proveito de crescimento e concretização.
E essas expressões continuarão guardadas com restantes expressões de outras vidas, em cofre de betão, quase imutável para permitir olhares de felicidade e continuar a ouvir doces melodias, ver campos verdejantes e céus com estrelas e ocasos lunares...
Continuarão guardadas até que um dia o cofre não seja suficiente, ou algum tipo de segredo sirva na sinuosa e recôndita abertura, que libertará os demónios negros e barulhentos que assolam a noite e o sono, em entre-acto da radiante e serena Luz do dia.

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