The Fatalis Verba

Quando no passado me foram ofertadas fracções do presente, rejubilei. Momentos de rara formosura serão sempre as ocasiões em que um presente estrelado, luminoso e reluzente nos crepita no trilho. Transforma-se a ansiedade do meramente imaginável, em impaciência de viver, de chegar e acontecer, contudo sem pressa de concluir.
Desfrutar com mais de cinco sentidos aquilo que o livre arbítrio não quis desfigurar.
Semelhante a um conto erótico onde já conhecemos a chave de ouro e saboreamos avidamente, com fulgor e tacto, cada minuto de observação, com engenho de não apressar a chegada do epílogo.
Não dar por concluído e não espreitar o lado de trás da cortina que desvenda e aviva as cores do que em sépia já nos fora ilustrado.
Não destapar o corpo aveludado que na essência conhecemos, onde o nosso tacto já passeou de mãos dadas com o destino, mas completa-se quando deslumbramos os ulteriores detalhes que dão cor e vida à unidade... finita no Ser, infinita na Paixão.

Quando a fábula me ensinou o futuro, esse funesto capítulo onde, entre os demais, se situa o pérfido e escuro, ensinou-me também a aguardar serenamente o vislumbre do dia em que, havendo essa hipótese, o futuro se pode modificar.
Entrevi de seguida que por vezes, o livre arbítrio não tem local para trabalhar, fora despedido das funções que lhe dão nome, nada lhe resta senão erguer-se, retirar-se e aguardar... apenas aguardar.

2 comentários:

jardinsdeLaura disse...

É verdade! Por vezes a escolha apenas é possível na teoria... na prática é por vezes tão longínqua, que nos damos conta que a diversidade dos caminhos a escolher não passa duma miragem que nos contém talvez o desespero mas não nos mata a sede!!!

Nuno Salvação disse...

Olá Laura.
Creio numa diversidade de caminhos, num livre arbítrio, numa "sorte" construída, mas também em situações que nos são alheias e que nada podemos fazer senão aguardar. Não falo do que nos acontece, mas do que se verifica em quem nos rodeia e não deixa margem de acção para além do apoio.

Creio numa vida que se traduz como um entre-acto de duas mortes. Como o sono nocturno é o entre-acto entre dois dias. Quanto melhor aproveitamos o sono, melhor se verificará o dia...

Bjs,
Nuno